A guerra comercial entre EUA e China e os impactos na região

“A única forma de nos protegermos minimamente como produtores, é através de uma gestão eficiente de custos e de fluxo de caixa”, analisa a diretora de Agronegócio da Acisa Passo Fundo

Desde o ano passado, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, vem anunciando tarifas sobre produtos importados da China. O argumento é a proteção dos produtores locais e a tentativa de reverter o déficit comercial que os Estados Unidos têm com o país asiático. Dificultando a chegada de produtos chineses, segundo o governo, isso estimularia a produção interna. Do outro lado, o governo da China tem reagido a esses anúncios com retaliações, chegando a impor, também, tarifas sobre produtos norte-americanos. A chamada guerra comercial entre as duas maiores potências mundiais trazem reflexos para o restante do mundo, incluindo o Brasil, onde, em 2018, as exportações para a China cresceram 35% na comparação com 2017.

Outros setores que podem ter impactos com esse confronto entre EUA e China são da soja, minério de ferro e petróleo, uma vez que os chineses são os principais parceiros comerciais do país na exportação desses produtos. “Somos o segundo produtor mundial de soja, atrás apenas dos EUA. Esta guerra comercial, pode, pontualmente, ser benéfica para nós, uma vez que, a China suspendendo ou sobretaxando as importações do grão americano, inevitavelmente tenderá a comprar mais do grão brasileiro para suprir sua demanda interna”, analisa a diretora de Agronegócio da Associação Comercial, Industrial, de Serviços e Agronegócio (Acisa) de Passo Fundo, Fabiana Venzon.

Entretanto, na contramão, conforme Fabiana, se a economia chinesa continuar a desacelerar, sua demanda por petróleo e minério de ferro tende a diminuir, o que será prejudicial às exportações brasileiras e consequentemente à balança comercial. “As consequências dessa guerra comercial são imprevisíveis e podem afetar não apenas nossa economia, mas o mundo todo, uma vez que chegando ao ponto de desvalorização artificial da própria moeda, como fez a China, poderá levar a uma recessão mundial, fazendo com que os fundos de investimentos diminuam sua atuação devido à insegurança, especialmente nas economias emergentes como é o caso do Brasil. Com menos investimentos, consequentemente teremos menos geração de empregos e menor consumo”, pondera.

Gestão eficiente
De acordo com a diretora de Agronegócio da Acisa, não há como se preparar para as consequências da atual situação. “A soja é uma comodity, negociada na bolsa de Chicago e sua cotação é em dólar, ou seja, são fatores incontroláveis e imprevisíveis, sensíveis às mudanças de humor dos principais players do mercado”, explica, ao salientar a necessidade e uma gestão eficiente por parte dos produtores locais. “A única forma de nos protegermos minimamente como produtores, é através de uma gestão eficiente de custos e de fluxo de caixa, para que possamos aproveitar oportunidades pontuais de mercado que possam ocorrer”.

“Guerra” sem fim?
Recentemente, Fabiana conheceu a China e afirma: “essa guerra comercial dificilmente terá fim, pois antes de tudo, é uma disputa de poder. Teremos que nos acostumar com sequências de novos capítulos, pois a gigante China é sim a maior ameaça à economia americana, dominando muitas tecnologias, investindo pesado em infraestrutura, com mão de obra abundante e barata e com uma vocação industrial que não se vê em nenhum outro lugar do mundo. Copiam e produzem absolutamente tudo o que necessitam para sua autossuficiência, investem pesado em educação e esse é um diferencial que os faz tão agressivos quando se trata de inovação. Essa é sem dúvidas a maior ameaça aos americanos”, conclui.