A força do agronegócio gaúcho supera os impactos da pandemia

          Desde o início da pandemia da covid-19, em meados de março de 2020, o Brasil e o mundo viram as atividades econômicas despencarem. Com menos pessoas circulando nas ruas, consequência das restrições impostas pelos governos, a renda dos brasileiros e, consequentemente, de todos os setores da economia, sofreu fortes impactos. Apenas um setor saiu ileso desse cenário, ao encerrar o ano com crescimento: o agronegócio. Segundo números do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), enquanto o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro caiu 4,1% em 2020, o da agropecuária cresceu 2%.

Em 2021, o agro deve confirmar uma supersafra de soja que vai movimentar mais de R$ 100 bilhões na economia gaúcha, de acordo com a Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul (Farsul). A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), estima que o valor bruto da produção em 2021 será de impressionantes R$ 1,14 trilhões, um incremento de 16% em relação a 2020. No Rio Grande do Sul, até o final de abril, o Estado deve colher 20,2 milhões de toneladas de soja, conforme dados da Emater. O volume é recorde e representa avanço de 78,9% em relação a 2020, quando a estiagem derrubou a produção da principal cultura gaúcha de verão.

Fabiana Venzon, vice-presidente de agronegócio da ACISA

Para a vice-presidente de agronegócio da ACISA, Fabiana Venzon, o cenário da safra 2021 é completamente diferente de 2020, visto que o clima tem favorecido os números positivos da boa produtividade. “Como panorama geral, esta é uma safra considerada normal. Tivemos um aumento discreto de área plantada. As novas tecnologias aplicadas à produção agrícola em vários aspectos; a ocorrência de chuvas mais significativas e melhor distribuídas, trouxe um aumento de produtividade importante se compararmos com a safra anterior”, destaca.

A principal cultura de verão provocará injeção recorde de dinheiro na economia gaúcha neste ciclo. O valor bruto da produção (VBP) da soja — montante a ser recebido pelos produtores a partir da comercialização do grão a preços de mercado — alcançará R$ 50,6 bilhões em 2021, de acordo com o Ministério da Agricultura, o que significa acréscimo de 104,1% frente a 2020 e de 68,5% em relação a 2019, última safra sem estiagem. Somente a oleaginosa responderá por 47% do VBP de toda a agropecuária do Estado, estimado em R$ 108,3 bilhões.  Essa produção gerada no campo se transforma em consumo no comércio, serviços, alimenta a indústria e gera impostos, empregos e renda, fomentando um círculo virtuoso de prosperidade onde todos ganham, direta ou indiretamente.

Com resultados expressivos neste ano, empresas e agricultores já projetam a próxima safra, apostando na vocação natural para a agricultura no país. Fabiana cita que o Brasil conta com muitos fatores positivos que confirmam o crescimento significativo do agronegócio, como a abundância de solo fértil, água potável, clima temperado, povo trabalhador e acesso a tecnologias. “O caminho natural é seguirmos fazendo bem feito, investindo cada vez mais em cuidado com o solo, rotação de culturas, manejos sustentáveis, adesão a novas tecnologias cada vez mais acessíveis e necessárias e escolha certa de cultivares. Somos muito eficientes e competitivos em produzir, e, certamente o ramo mais promissor da economia nas próximas décadas continuará sendo a atividade agropecuária”. Hoje o Brasil produz alimentos para 1,5 bilhões de seres humanos, ou seja, alimenta o equivalente a cinco vezes a nossa população, com a utilização de apenas 48,5 milhões de hectares. Conforme dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), o país deve produzir neste ano 274 milhões de toneladas de grãos como soja, milho, trigo, feijão, amendoim e outros.

Foto: Divulgação/CNA

Mesmo com os números animadores da colheita de grãos, o consumidor final não deve sentir uma redução dos preços nos alimentos. Isso, conforme explica Fabiana, acontece porque os custos de produção também tiveram um aumento proporcional pela valorização do dólar, sem contar com as incertezas ainda desencadeadas pela pandemia. Outro fator é o aumento do barril de petróleo no mercado internacional, que fez com que o diesel tivesse um acréscimo de preço e, consequentemente, no custo dessa produção.

Esse efeito cascata acontece pelo fato de que todos os insumos utilizados no plantio, colheita e transporte dependem diretamente do consumo de óleo diesel, dado que o transporte rodoviário é o principal modal. Ainda, as cotações das commodities no mercado internacional dobraram de preço no último ano, passando do patamar de sete para 14 dólares o bushel da soja neste ano. O cenário dificilmente deve se alterar nos próximos anos devido à baixa dos estoques mundiais. “Por todos esses fatores, dificilmente os preços ao consumidor final terão redução, com exceção daqueles produtos mais regionalizados e que estejam em safra, como é o caso de alguns hortifrútis”, finaliza a vice-presidente.