“O risco de desabastecimento de fertilizantes é real”, afirma ex-vice-presidente de Agronegócios da ACISA.

Importações de produtos como fertilizantes e insumos agrícolas devem ser afetadas com conflito bélico no leste europeu.

A invasão russa à Ucrânia, que se iniciou no final do mês passado, já está gerando impactos na economia mundial. No Brasil, um dos setores mais afetados é o do agronegócio. Conforme a Conselheira de Administração da Cotrijal e ex-vice-presidente de Agronegócios da ACISA, Fabiana Venzon, a produtividade tende a ficar seriamente comprometida com a invasão russa às terras ucranianas.

Segundo Venzon, o impacto deve ir além da valorização das commodities. Em cenários instáveis, como o atual, investidores retiram recursos de outros ativos e passam a investir em commodities. Rússia e Ucrânia são responsáveis, hoje, pela produção de 25% do trigo do mundo, e o grão é a base da alimentação mais barata da população mundial, por ser o carboidrato mais abundante e principal fonte de energia na alimentação humana. O conflito bélico, no momento em que se dá estabelecimento das próximas lavouras de trigo, tem sido crucial para o aumento no valor do produto comercializado, inédito no preço alcançado pela saca nas Bolsas de valores em todo o mundo, com até 200% de escalada. Menor quantidade disponível, maior o preço. Isso também deverá se refletir no valor repassado para o consumidor final, que deverá pagar a conta.

Outra questão crucial que terá um grande impacto são os fertilizantes. “Mais de 80% do que se consome internamente é importado. O fertilizante é o alimento da planta, que se não é alimentada adequadamente produz menos”, explica a conselheira. Cerca de 23% dos fertilizantes consumidos no Brasil são oriundos de países como Russia e Ucrânia. As dificuldades não são apenas de logística, já que empresas responsáveis pelos transportes temem que seus navios sejam bombardeados e afundados durante o conflito armado. Os riscos de prejuízos tornam-se incalculáveis. Venzon ainda afirma que existe um grande risco de desabastecimento de fertilizantes e isso impacta diretamente no planejamento dos produtores. No primeiro trimestre, no Brasil, é quando se calculam os custos da safra para o próximo ano. Os produtores brasileiros aguardavam uma regressão nos preços dos insumos ocasionados pela escassez de matéria prima em virtude da pandemia.

No momento em que se inicia o conflito, a oferta torna-se escassa e os preços sobem. A disponibilidade dos fertilizantes fica muito reduzida. Empresas e Governo estão buscando fontes alternativas de potássio em outros países, como o Canadá. O risco existe e é concreto, avalia Venzon. Redução de produtividade e produção menor; o custo de produção aumenta e os preços são repassados para o consumidor final. Opões alternativas são estudadas, porém ainda não suprem a necessidade da produção nacional.

Outro grande entrave é que a Rússia está fora do sistema cambial, ou seja, mesmo que o Brasil não tenha estabelecido restrições comerciais junto ao governo russo, não é possível realizar transações financeira com o país.